QUASE UM ARRAIAL
O ataque parece um arraial
De aldeia
Com foguetes a ribombar
E gritos abafados pela correria
A loucura na madrugada
Acorda e irrompe
Os segredos da floresta próxima
E nós parecidos a toupeiras
Que escavam a terra inerte
Espezinhada e ensanguentada
Disparos cortam a noite
E outros levantam os braços
Na direcção do céu
Depois vem a manhã cristalina
De brisas africanas
Que limpa as feridas
E o cheiro a pólvora
Aqui e ali buracos
Destinados a sepulturas adiadas
Por uma noite, um dia, um ano …
A eternidade do momento.
(Mamarrosa, Fevereiro de 1973)
José Rosa Sampaio
O Vermelho do Capim: poemas da Guerra Colonial
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